sexta-feira, 27 de março de 2009

Resenha - "O nevoeiro"

Considerados ruins por seus baixos orçamentos, os filmes “B” das décadas de 50, 60 e 70 compensavam a falta de tecnologia e efeitos especiais com roteiros originais e muita imaginação. Lançados por pequenos estúdios sem grandes expectativas comerciais, essas produções acabavam tendo uma certa liberdade para abordar assuntos como a sociedade e a política em geral – levando em conta a censura da época, claro. Assim, filmes americanos no auge da Guerra Fria mostravam zumbis do espaço e insetos gigantes como alegorias do inimigo desconhecido e longínquo, os comunistas; no Japão, o monstro radioativo Godzilla refletia o medo da bomba atômica.

“O Nevoeiro” é um legítimo filme “B”. Baseado em um conto do mestre do terror (físico e) psicológico Stephen King, o longa conta a história de uma cidadezinha norte-americana que, após uma tempestade, se vê envolta por uma espessa e inexplicável bruma. Logo um grupo de moradores isolados em um mercado descobre que há monstruosas criaturas à espreita nessa neblina. Presos ali, o medo, o desespero e a paranóia vão tomando conta de quase todos; uma fanática religiosa, dizendo que aquela situação é Deus punindo a Humanidade, começa a pregar que é chegado o Apocalipse. Aos poucos ela vai ganhando mais e mais seguidores, criando uma espécie de Caça ás Bruxas de proporções trágicas contra o cada vez menor grupo de pessoas céticas e racionais – mostrando que os humanos podem ser tão perigosos quanto as criaturas.

O terror sempre foi um gênero propício para críticas e alegorias da realidade (“um gênero fora-da-lei”, como definiu o próprio King), e “O nevoeiro” pode ser lido como uma metáfora da sociedade norte-americana atual. Cegados por uma mídia tendenciosa e corrupta e por governantes de índole não menos duvidosa, a nação mais poderosa do mundo se encontra acuada diante de inimigos que eles mesmos mal conseguem definir claramente. E o desconhecido gera o medo primitivo e irracional, cuja reação natural é a violência e o apego a qualquer crença ou verdade absoluta (como, por exemplo, o nacionalismo exacerbado que impulsiona a política de intervenção militar nos países do oriente médio) – situação representada no longa brilhantemente pelo fanatismo religioso. Pungente, o final dessa fábula de horror é uma catarse incômoda e indigesta, não só como a metáfora de uma potência à beira do caos, como também a dos homens, tão naturalmente frágeis. E perigosos.


(The Mist, EUA, 2007. Dir.: Frank Darabont. Com: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Laurie Holden, Chris Owen. 126min.)

sábado, 21 de março de 2009

Conversas

-Eu achava que Jimmy Carter era um roqueiro.

- .............. certo.

- Não, é sério.

- E você nunca achou estranho que toda vez que alguém falava dele era algo sobre os EUA, Casa Branca, presidência...

- Ah, era só eu escutar o nome dele que eu começava a imaginar um roqueiro dos anos 70, passando mal em algum show tipo Woodstock e morrendo asfixiado com o próprio vômito. Daí eu não escutava mais nada.

- Você vai acreditar se eu disser “Entendo”?

- Não.

- Ainda bem... O que você lembra quando ouve falar do Lula?

- Sei lá.... algum engenho de pinga no Agreste.... algo assim...

- Hehehe boa... e Bill Clinton?

- Hum... Hilary Clinton. Pegava fácil. E você, lembra do que sobre... hum... Tony Blair?

- “A bruxa de Blair”, é inevitável. E o Bush?

- Macaco. E Bin Laden?

- Habib’s. E Fernando Collor?

- De um tucano, sei lá, é algo da minha infância...

- Que tocante. E Margaret Thatcher?

- Quem?

- Deixa pra lá. Che Guevara?

- Maconha. Fidel Castro?

- Zumbi. Nixon?

- Daquele filme chato do cara que fez o canibal lá... Kennedy?

- Marilyn Monroe. Hugo Chavez?

- Aqueles bebums de padaria, de cara amassada. Obama?

- Jogador de basquete.Fernando Henrique Cardoso?

- Ah, sei lá... nada.

- Nada?

- É. Por falar nisso, em quem você vai votar na eleição da semana que vem?

- Sei lá, na hora eu decido. Não vou com a cara de nenhum deles, mesmo...

- Bora beber sábado em casa?

- Demorou.