terça-feira, 19 de abril de 2011

Pânico 4 (resenha)

Sequência nostálgica com jeito de refilmagem peca por excesso de metalinguagem e não deixa espaço para material original próprio


O diretor Wes Craven abre o novo capítulo da cine-série “Pânico” reconhecendo e satirizando o que qualquer crítico ou fã da trilogia original possa reclamar a respeito deste longa: exploração de fórmulas e ideias gastas, sequência oportunista e uso de metalinguagem que já não é novidade para ninguém em um gênero já decadente. Assim Craven tenta (re)fazer o que o primeiro "Pânico" fez há mais de uma década - um bem humorado comentário sobre os filmes de terror atuais, além de dar continuidade e inovar o gênero. Pena que o filme falhe nesta segunda tarefa.

A grande sacada do filme de 1996 era encher a trama com referências a outros longas do gênero, que faziam os fãs de filmes de terror sorrirem de felicidade ao verem sua paixão reconhecida e usada na tela grande, definir os clichês e regras dos filmes de serial killers e, ainda assim, fazer um “ teen terror” original. Essa metalinguagem não era comum na época, e o filme em si abriu caminho para uma nova leva de assassinos em série matadores de adolescentes no cinema. Mas os tempos e principalmente o cinema são outros em 2011. Duas sequências, o declínio do "terror adolescente", a ascensão do "torture porn" e o reinado das refilmagens fazem de "Pânico 4" um produto nostálgico e um prato cheio para Craven e o roteirista Kevin Willamson (ambos mentores da trilogia original) reavaliarem o terror atual – porém, a dupla foca demais nas referências e nas auto-referências e se esquece de criar uma trama própria mais consistente.

O longa mostra Sidney Prescott (Neve Campbell) voltando para a cidade de Woodsboro depois de mais de uma década após os assassinatos, para o lançamento de seu livro. Lá ela reencontra os amigos e sobreviventes Dewey (David Arquette) e Gale (Courtney Cox), mas seu retorno traz de volta também o assassino mascarado (com a famosa máscara de “ghostface”) que vai aterrorizar não só Sidney, mas sua prima Jill (Emma roberts) e seus amigos. Enfim, com novas caras adolescentes e mais sangue e mortes que os anteriores (para a plateia que se acostumou com “jogos Mortais” isso nunca é o suficiente), não há uma cena sequer em “Pânico 4" que não faça referência aos filmes de terror dos últimos anos ou à trilogia original. Há a discussão não muito clara das novas regras do gênero – a regra é não seguir as regras, e o negócio é fazer uma refilmagem que supere o original em todos os sentidos, mas esta acaba não deixando espaço para a construção da tensão, da trama em si e principalmente dos novos personagens - a motivação do(s) assassino(s) (será apenas um? serão dois como nos anteriores? As regras mudam mesmo?) é totalmente a esmo e sem fundamento, um ponto muito fraco em relação aos outros da trilogia. E é ótimo ver Dewey e Gale tentando resolver o mistério como antigamente, assim como Sidney é o único personagem com profundidade e verdadeira conexão com os longas originais. Porém, há pouco espaço para os “velhos” elementos no meio da necessidade quase gritante de renovação que o longa deixa transparecer.


“You forgot the first rule about remakes: don’t fuck with the original”. A frase, que mostra certo cinismo na visão dos criadores, mostra como “Pânico 4” é uma sequência com cara de refilmagem, contendo o próprio making-off. Mas será que eu é que fiquei velho e ranzinza, e não entendo mais o que me fazia gostar tanto desses “slasher films” na adolescência? Após rever a trilogia original (digo "original" porque elas fecham uma história completa, na qual o próprio diretor afirmou não querer mais trabalhar) antes de assistir este novo, afirmo que continuo admirando e gostando muito dela. No final das contas, “Pânico 4” é bem humorado e tem seus momentos, mas tinha muito potencial para ser melhor. E também, em se tratando de continuações, poderia ter sido muito pior.